terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Paprika e o Mundo dos Sonhos (2006) | Crítica


OBS: Essa análise possui alguns spoilers leves.

Sinopse
Num futuro próximo, o Dr. Tokita (Tôru Furuya) inventa um poderoso aparelho chamado DC-Mini, que torna possível o acesso aos sonhos das pessoas. Sua colega, a Dra. Atsuko Chiba (Megumi Hayashibara), psicoterapeuta e pesquisadora de ponta, desenvolve um tratamento psiquiátrico revolucionário a partir do aparelho. Mas, antes de seu uso ser sancionado pelo governo, o DC-Mini é roubado. Quando vários dos pesquisadores do laboratório começam a enlouquecer e a sonhar em estado de vigília, Atsuko assume seu alter-ego, Paprika, a bela “detetive de sonhos”, para mergulhar no mundo do inconsciente e descobrir quem está por trás da tragédia.

Análise
Nada melhor do que uma animação para retratar uma viagem psicodélica que usa até mesmo diversos conceitos de teorias freudianas de psicanálise, de que nem preciso citar, em sua execução. Paprika brinca com o mundo dos sonhos lúcidos, o misturando com a realidade de tal maneira que em certos pontos os mais desatentos não conseguem distinguir mais. A fictícia mulher dos cabelos ruivos é na verdade Chiba Atsuko, a psicoterapeuta que entra várias vezes no mundo dos sonhos para dar suporte àqueles que usam o DC-Mini; Existe uma suavidade tão grande no roteiro que essa percepção entre as duas personagens ocorre de maneira natural ao longo do tempo, sem necessidade de simplesmente jogar a dupla identidade da personagem na nossa cara, este já não é um spoiler tão grande já que apenas os desatenciosos não conseguiriam perceber tal ligação tão cedo, e concluindo, a forma com que ela é retratada em suas duas formas é sempre coesa. 


Os vários personagens presentes mostram diferentes crises e terapias aos sonhos, e é com estes que o show vai se executa e explora-se, com grandes invasões e posse de controle do mundo de seus sonhos. Uma fuga imensa do universo real para o inabitável ambiente que se mostra fantástico e mais quimérico o possível, cheio das criaturas e bizarrices mais alucinóticas. Na cena em que vários seres, entidades e objetos desfilam sobre portais xintoístas podemos ver a lambança espiritual e interpretativa que ocorre por meio do consciente de vários pessoas da sociedade, não só dos personagens que circulam a história. Fazer com que toda a sociedade viva no mundo manipulado dos sonhos, em que todas perdem a noção do substancial e ficam bobas e alegres eternamente, é o objetivo dos desconhecidos terroristas que estão misturando os sonhos de toda população, em uma deserção da sociedade.


Este mundo fantástico em que tudo é possível é tão explorado no mundo dos sonhos que faz referências a várias animações conhecidas, como Dragon Ball. E a ligação entre esses pontos se faz presente no levantamento que se têm dos japoneses que usam animes, mangá e toda essa cultura para ter um escape do mundo real, viver apenas dentro do seu próprio imaginário em que seus gostos tomam forma e tudo é certamente mais colorido. Um dos personagens mais caricatos que encaixam com esse ponto-chave é Tokita, o homem de extrema obesidade mórbida que criou o DC-Mini. Retratado como extremamente inteligente na obra ao ponto de soar como um dom, é um anti-social ativo que age de maneira totalmente infantil em contra partida, e acabou tendo a ideia de criar o equipamento graças a uma conversa boba que teve com um amigo, na qual disse que gostaria de compartilhar seus sonhos com ele. A subjetividade do anime passa que todo aquele mundo de sonhos infantis é de Tokita, e Paprika nada mais é do que a singularidade que ele queria ser na vida real mas não consegue. O contraste entre ele e Chiba fica claro e objetivo já que em alguns pontos os dois são opostos de uma mesma moeda, em que o diretor faz mostrar como Tokita queria realmente ser. 



O filme acaba explorando o conflito interno de várias pessoas que fogem ou querem fugir da realidade para viver sem incomodo, no aconchego, e um dos diversos diálogos que leva a este entendimento: “NÃO ACHA QUE OS SONHOS E A INTERNET SÃO SEMELHANTES? AMBOS SÃO LUGARES ONDE O CONSCIENTE REPRIMIDO É LIBERADO.”

O mérito dessa incrível viagem é do grandessíssimo e infelizmente falecido diretor Satoshi Kon. Sua adaptação para o filme foi incrível e ele minuciosamente usou dos mais diversos recursos que poderia para tornar essa aventura alucinante mais incrível o possível, e fez mais bonito ainda no final cliffhanger que nos dá um gosto de quero mais, sugiro a todos que comprem o bluray do anime e vejam o extra em que o diretor esclarece muitos pontos e mostra como foi a produção do longa.  A trilha sonora não só no final mas durante toda a execução nos presenteia com ótimos ritmos empolgantes, que contribuem e muito para a imersão à série e alto-astral em geral. 


Por fim, a mescla sensacional de um CGI de 2006 com animação 2D que mal é percebida diante de quem assiste merece muitos méritos, a produção deste filme pela Madhouse com certeza não foi pouca coisa; É merecedor de todos prêmios de críticos que já recebeu.

Conclusão
Paprika é um ótimo entretenimento visual, com um curioso, divertido e competente desenvolvimento que se faz coeso do começo ao fim. Pode não ser a melhor produção do diretor, mas com certeza é um show que vale a pena assistir para se tirar várias representações. A história é tão envolvente que mesmo sem tantos diálogos extensivos como se vê por aí é capaz de trazer uma grande execução em seus 90 minutos.


Direção: 9/10
Roteiro: 8.5/10
Animação: 8/10
Soundtrack: 8.5/10
Entretenimento: 8/10


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